A pouco mais de uma semana para o regresso dos Campeonatos Europeus de Corta-Mato a Portugal, no caminho que nos leva até ao Parque Urbano do Parchal/Lagoa/Algarve, recordamos a última vez que Lisboa foi capital europeia do corta-mato em 2019, a completar 28 anos depois da histórica edição de 1997 no Jamor e quase uma década após Albufeira 2010.
Em 2019, o palco escolhido foi o Parque da Bela Vista que, transformado num verdadeiro anfiteatro natural, acolheu milhares de espectadores e um ambiente vibrante que proporcionou às provas uma envolvência rara no panorama continental. O percurso, exigente e tecnicamente seletivo, combinou subidas curtas, mas intensas, curvas cerradas e zonas de relvado rápido, favorecendo atletas versáteis e estrategicamente maduros.
Na prova rainha masculina, o turco Aras Kaya confirmou o favoritismo e recuperou o título europeu conquistado três anos antes, impondo um ritmo forte desde cedo para cortar a meta em 30m10s. O italiano Yemaneberhan Crippa, uma das estrelas emergentes do fundo europeu, garantiu a prata (30.21), seguido pelo suíço Julien Wanders (30.25), especialista de estrada que também brilhou no terreno irregular da Bela Vista.
O melhor português foi André Pereira, que terminou num sólido 20º lugar (31.22). Coletivamente, o pódio ficou entregue a Grã-Bretanha, Bélgica e Espanha, com Portugal na 6ª posição.
Entre as senhoras, a turca Yasemin Can, detentora de um invejável currículo na disciplina, confirmou igualmente a sua superioridade, triunfando em 26.52. A norueguesa Karoline Bjerkeli Grøvdal foi vice-campeã (27.07), enquanto a sueca Samrawit Mengsteab fechou o pódio.
Dulce Félix, uma referência do meio-fundo nacional, já a “fechar” a sua carreira, conseguiu um excelente 8º lugar (28.09) e liderou Portugal ao bronze coletivo, lado a lado com Salomé Rocha (10ª) e Susana Francisco (25ª), sendo um dos momentos altos do dia nos campeonatos. Desde 2010 que Portugal não ganhava uma medalha coletiva!
Nos sub-23 masculinos, o francês Jimmy Gressier, figura dominante da categoria, voltou a impor-se de forma categórica com 24.17. O sérvio Elzan Bibic e o espanhol Abdessamad Oukhelfen completaram os lugares cimeiros. Portugal terminou no 13º posto, com Alexandre Figueiredo (38º) como melhor representante nacional.
Entre as sub-23 femininas, a dinamarquesa Anna Emilie Møller, especialista em obstáculos e uma das atletas mais completas da Europa, venceu confortavelmente em 20.30. Países Baixos, Irlanda e Grã-Bretanha compuseram o pódio coletivo, enquanto Portugal concluiu no 9.º lugar, com Manuela Martins (26ª) em destaque.
A prova sub-20 masculina ficou marcada por mais uma demonstração de talento do já então consagrado prodígio norueguês Jakob Ingebrigtsen, que venceu em 18.20 e reforçou o seu domínio na categoria vencendo pela quarta vez consecutiva nesta categoria. O português Etson Barros realizou uma das melhores exibições lusas do campeonato ao terminar em 4º lugar (19.05), ficando perto da medalha. Este desempenho foi fundamental para garantir o bronze coletivo, juntamente com Duarte Gomes (14º) e Miguel Moreira (21º).
No setor feminino sub-20 surgiu um dos momentos mais emotivos da participação portuguesa. Mariana Machado, filha da olímpica Albertina Machado e já então uma das mais promissoras atletas nacionais, conquistou um brilhante 3º lugar (14.10), atrás da italiana Nadia Battocletti — que repetiu o título — e da eslovena Klara Lukan. Mariana fez uma prova tática perfeita: partiu controlada, resistiu ao forte ritmo imposto pelas favoritas e lançou um ataque decidido, chegando a liderar a corrida, sob o incentivo ruidoso do público lisboeta, mas terminaria no terceiro lugar do pódio. A equipa portuguesa finalizou a prova em 5º lugar, com o contributo de Lia Lemos (18ª) e Bárbara Neiva (34ª).
A estafeta mista trouxe espetáculo e indefinição até ao último metro. A Grã-Bretanha impôs ritmo forte e conquistou o ouro, seguida de França e Espanha. Portugal esteve sempre competitivo e fechou num meritório 5º posto, com a formação composta por Salomé Afonso, Paulo Rosário, Patrícia Silva e Luís Monteiro.
A edição de Lisboa 2019 consolidou o estatuto de Portugal como um dos países com maior tradição na organização de grandes eventos de Corta-Mato. O percurso desafiante, a excelente adesão do público e o ambiente festivo contribuíram para um campeonato marcado tanto pela qualidade competitiva como pela emoção. Para Portugal, com a conquista de três medalhas (o bronze coletivo em seniores femininos, bronze em sub-20 masculinos e sobretudo, o terceiro lugar de Mariana Machado), estes campeonatos voltaram a unir o público com os grandes eventos do atletismo, mas acima de tudo mostraram uma nova geração de atletas que ainda hoje continuam a mostrar-se nos grandes palcos. Como o de Lagoa 2025.
Federação em cooperação com as Forças Armadas
Domingos Castro, Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, recebeu a Comissão de Educação Física e Desporto Militar, com o objetivo de estabelecer uma plataforma de entendimento entre a FPA e a Comissão.
Estiveram presentes o Coronel José Contramestre, a Coronel Lídia Santana, José Pavoeiro e o Comissário Hélder Machado.
No final do encontro, foram estabelecidas sinergias para que, a curto prazo, ambas as partes desenvolvam um programa de colaboração que promova o atletismo no seio das Forças Armadas e reforce a cooperação institucional entre as duas entidades.


