Terça-feira 07 de Maio de 2024

COP no Dia Internacional do Desporto para o Desenvolvimento e a Paz

COP-DiaInternDesporto-6-4-18Elisabete Jacinto, Pedro Adão e Silva e José Goulão foram os protagonistas da comemoração de mais um Dia (6 de Abril) Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e Paz, que decorreu esta sexta-feira no auditório do Comité Olímpico de Portugal.

Depois do presidente do COP, José Manuel Constantino, ter lembrando que as Nações Unidas fizeram coincidir a celebração da data com o aniversário dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, realizados em Atenas, Grécia, em 1896 e que esta foi a quinta acção deste tipo (iniciou-se em 2014), foi a vez dos oradores se pronunciarem sobre algumas experiências vividas pessoalmente e sobre assuntos que estão na ordem do dia.

Antes disso, de recordar que este dia foi instituído por decisão tomada pela Assembleia Geral da ONU, em 2013, com o intuito de como “fazer a ponte” entre o desporto, pelo elevado grau promocional que tem no planeta Terra (muitas vezes por questões não positivas), e as outras áreas envolvidas, que se “aliam” para tornar um mundo melhor.

Na mesma decisão, a ONU recomendou ainda que, aproveitando esta oportunidade, que os organizadores dos correspondentes eventos distingam personalidades nacionais que se tenham distinguido nas áreas em apreço, recordando-se que, em 2014, Moniz Pereira foi homenageado (por um clube na Amadora) com o Troféu Carreira/Prestígio, no final de um debate algo semelhante e em que o momento mais significativo foi o beijo que Domingos Castro deu na testa do Senhor Atletismo, para o caso, quiçá, como segundo pai (ou o pai de Lisboa), cujos ensinamentos o levou ao estrelato.

Elisabete, a mulher “todo-o-terreno” nos camiões pelo deserto – por onde anda desde 2001 – testemunhou alguns momentos dramáticos dessas passagens pelo continente africano, em especial entre Marrocos e a Mauritânia, em que a viatura (que ficou destruída) da sua assistência parou em cima de uma mina, que explodiu de seguida e feriu seriamente os ocupantes, precisamente na sua primeira “tournée” pelo Raly Dakar.

Deu a conhecer que, em 2003 (entre a Líbia e o Egipto) os concorrentes tiveram que ficar parados no meio deserto porque a fronteira tinha fechado, numa altura em que vários grupos tentavam “assaltar” as viaturas, o que levou, anos mais tarde, ao cancelamento do próprio Rally Dakar, com prejuízos enormes, do ponto de vista económico, para os países por onde passavam, que deixaram de beneficiar a população em milhões de dólares, valores que a larga comitiva (na ordem das 700 pessoas, cerca de trezentas viaturas, que eram abastecidos localmente) gastava na viagem.

Duas situações traumatizantes mas que Elisabete Jacinto soube tornear como “mulher de aço” que é – actualmente é presidente da Comissão de Mulheres do COP – tanto que está de partida para mais uma aventura no deserto de Marrocos.

Elisabete sublinhou também que, “no caso da modalidade desportiva que pratica, o automobilismo todo-o-terreno, existiu a tendência para aproveitar as provas para palco de conflitos, nomeadamente o Rali-raid Dakar. Quiseram dar nas vistas ou chamar a atenção para reivindicações de organizações locais, em contraciclo com o espírito de união que tem marcado o desporto noutros eventos e lugares”.

 

Pedro Adão e Silva, professor universitário, comentador de desporto, politólogo e praticante de surf, começou por se debruçar pela “paixão” da modalidade, que sempre praticou, como que “viajando sobre várias ondas”, recordando locais como a Nazaré, Ericeira e Peniche, que “mudaram o paradigma destas localidades, sob todos os prismas, face aos êxitos verificados, em especial na Nazaré, em relação às ondas gigantes.

Referiu o exemplo das tréguas olímpicas porque “tinham um lado aspiracional e que, na actualidade, os Jogos Olímpicos desenvolvem uma visão humanista sobre o Mundo.”

Pedro Adão e Silva citou o antigo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para lembrar como o desporto pode ser poderoso para o desenvolvimento e a paz, dado que “as tréguas olímpicas têm um potencial ilimitado”, tendo abordado também o problema da dopagem no desporto (que é contra o espirito olímpico e os valores definidos na Carta Olímpica”.

Sob a moderação da jornalista Maria Flor Pedroso (RTP/Antena 1), que desempenhou o seu papel de uma forma positiva, coube a José Goulão, jornalista desportivo que foi e comentador especializados em assuntos do Médio-Oriente que é, reportou a “ambivalência do desporto, que se movimenta numa linguagem universal”, centrando-se depois na questão do doping, antes suscitada com a alusão a “Ícaro”, documentário premiado pela Academia de Hollywood: “Faz-me confusão que as autoridades não actuem perante uma denúncia destas.” E foi mais longe ao afirmar que “o desporto foi vigarizado em sete voltas a França”, quantas Lance Amstrong venceu dopado.”

Referiu-se ainda à “manipulação desportiva” e que “em termos de olimpismo andámos para trás, aliás como se está a preparar para o mundial de futebol da Rússia, no verão, face ao boicote que alguns países europeus já estão a ameaçar em virtude do envenenamento (ou não) de um ex-espião russo em Inglaterra, que acusa a Rússia do facto”.

Aproveitou ainda para salientar que “aprendi muito com Manuel Sérgio e José Esteves ao ler as obras, pensamentos e reflexões importantes que fizeram para o desporto nacional”, tendo concluído como que a “e recordar e enaltecer o papel desempenhado por Nelson Mandela que apostou numa equipa de brancos que se sagrou campeã mundial de rugby, no que foi um êxito sobrelevado por toda a sociedade sul-africana”.

Na segunda parte, Pedro Adão e Silva argumentou não se poder equivaler “o doping de estado ao doping individual porque não tenho nenhuma evidência que o doping de Lance Armstrong tenha sido arquitectado pelas autoridades norte-americanas.”

Ao que José Goulão respondeu que não faz distinção entre o doping de estado e o doping dos laboratórios. “O que questiono é como é que ele [Armstrong] ganhou sete voltas a França e nada aconteceu?”.

Maria Flor Pedroso suscitou o exemplo dado por José Mourinho na promoção de um jogo de futebol entre palestinianos e israelitas como forma de aproximar os dois povos, mas José Goulão foi claro na sua conclusão ao afirmar que “a iniciativa foi muito bem-intencionada, como o foram os concertos em Ramallah. São atitudes morais, positivas, mas nada resolvem.”

Lembrou depois “o início da invasão da Tchetchénia pela Geórgia quando, na mesma altura, se celebrava o início dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, no que foi “a antítese da trégua olímpica.”

Por contraponto, José Goulão sublinhou como o “desporto tem a capacidade de sublimar a própria guerra”, expressa nas modalidades desportivas de tiro, artes marciais, luta ou boxe.

“O desporto é a actividade mais pacifista que existe”, acrescentou.

Elisabete Jacinto encerrou o debate considerando que “o desporto é uma ferramenta fundamental na educação dos jovens”, deixando um pedido: “Temos de fazer um esforço colectivo para valorizar o desporto.”

É caso para dizer: mãos à obra. Mas – há sempre um senão – com quem, com o quê, onde e quando? Há voluntários com capacidades éticas e à vontade para abordar este tipo de fenómenos junto das várias classes sociais, qualquer que seja a idade? Que prioridades?

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