Governo deve assumir os custos do funcionamento do Desporto no Orçamento do Estado, na ótica de Fernando Gomes (COP).
O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), Fernando Gomes, sugeriu ao futuro Governo de Portugal que assuma o financiamento do setor do Desporto no Orçamento do Estado, segundo a informação veiculada no site do Comité Olímpico de Portugal.
“Independentemente do novo modelo que venha a ser adotado, julgamos que é fundamental que o Estado assuma a responsabilidade, em sede do Orçamento, pelos custos associados ao funcionamento e desenvolvimento do sistema desportivo nacional”, disse durante a 3ª Conferência Bola Branca organizada pela Rádio Renascença (RR).
“O montante atribuído ao Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), proveniente da repartição dos jogos sociais deve ser, integralmente, destinado às modalidades que promovem o desenvolvimento desportivo em Portugal. Uma afetação que deve ser operacionalizada através da celebração de contratos-programa que apoiem as atividades regulares de cada modalidade”, defendeu o presidente do COP, que pretende ainda “valorizar as modalidades que não beneficiam diretamente das receitas das apostas desportivas, através de um mecanismo de solidariedade”, propondo “uma distribuição mais justa e estratégica”, tendo em consideração “critérios objetivos”, como o número de praticantes federados, a evolução das modalidades nos últimos anos e a sua implantação geográfica no território nacional.
Fernando Gomes alertou igualmente para os contratos-programa relativos às deslocações para as Regiões Autónomas. “O financiamento dessas deslocações deve ser assumido pelo Governo, no exercício da sua obrigação constitucional de garantir a coesão e continuidade territorial, tal como previsto na Constituição e na Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto”, de forma a libertar as verbas provenientes das receitas dos jogos sociais e das apostas desportivas para apoiar federações, clubes e atletas.
“Com isso será possível aumentar o número de programas comunitários de iniciação, atribuir mais bolsas de formação e colocar os centros de treino à disposição de todos os portugueses – não só para nos ajudar a encontrar os próximos campeões olímpicos, mas também para prevenir doenças crónicas, prolongar a longevidade e elevar o bemestar geral”, sublinhou o presidente do COP.
Libertar as verbas dos jogos sociais e passar o custo do funcionamento do IPDJ para o Orçamento de Estado permitiria alocar a percentagem de 20,66% dos 37,5% do Imposto Especial de Jogo Online (IEJO) à “criação de um Fundo de Equilíbrio Desportivo”, sugere Fernando Gomes. “A verba disponível deve, depois, ser redistribuída de forma mais transparente e estratégica, com base em critérios previamente definidos, para uma gestão mais eficaz e equitativa dos recursos disponíveis. Relativamente às receitas provenientes das apostas desportivas online, os 25% do IEJO destinados ao Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) devem ser aplicados, exclusivamente, no desenvolvimento do desporto.”
Fernando Gomes focou-se igualmente na “urgência de tornar a atividade física um direito efetivo – e acessível – a todas as idades, como pilar de saúde, educação e bemestar” tendo apresentado números: “Para termos uma ideia concreta, estimase que, em média, cada participante ativo poupa ao sistema de saúde mais de 250 euros por ano, diminui em 20% o risco de doenças cardiovasculares e reforça o seu rendimento físico e mental ao longo da vida. Na União Europeia, o desporto representa cerca de 2,12% do PIB e 2,72% do emprego, e a tendência é que estes valores continuem a crescer.”
Realidade distinta da que se vive em Portugal, onde “precisamos de aumentar o investimento direto no desporto e na promoção da atividade física, alterando os atuais modelos de financiamento”, defendeu Fernando Gomes, que reafirma um dos eixos fundamentais da sua ação: os atletas.
“No COP empenhámo-nos em desbloquear o Contrato-Programa para Desporto 2024-2028 e dar início à gestão dos 50 milhões correspondentes, sempre com o foco nos atletas”, refere. “Queremos dar-lhes o melhor suporte, para que os nossos atletas tenham as melhores condições para brilhar; apoiar a sua carreira dual e desenvolver iniciativas para os apoiar na transição para a vida profissional após a sua carreira desportiva.”
Os Novos Ciclos dos Campeões
Os atletas olímpicos Fernando Pimenta, Patrícia Sampaio e Diogo Ribeiro participaram no painel Os Novos Ciclos dos Campeões e reafirmaram uma mensagem comum: estão confiantes quanto às suas possibilidades de sucesso durante o ciclo LA 2028.
Fernando Pimenta, canoísta medalhado em Londres 2012, ao lado de Emanuel Silva, novo presidente da Comissão de Atletas, presente no auditório da RR, e em Tóquio 2020, individualmente, lançou um desafio aos novos líderes das Federações Desportivas: “Aquilo que eu espero é que se lembrem da base e a base do desporto somos nós, atletas, as massas, mas também queremos a qualidade, que continuem a apostar e apostem forte no desporto.”
Campeão da Europa e do Mundo em diversas ocasiões, Fernando Pimenta, em mensagem gravada, diz acreditar que Portugal vai “ter um excelente ciclo olímpico”, prometendo “quatro anos de muito sucessos.” No imediato, o atleta da Equipa Portugal tem na agenda o Campeonato da Europa de Maratonas, em Ponte de Lima, e depois o Campeonato da Europa de velocidade. Mais à frente terá então Los Angeles 2028.
“Será muito provavelmente o meu último ciclo olímpico e quero desfrutar ao máximo para chegar lá numa boa forma, mas não só numa boa forma em termos físicos, mas também em termos emocionais. Quero sentir que estou a fazer aquilo que gosto e quero poder lutar por excelentes resultados em Los Angeles 2028.”
Patrícia Sampaio, recente campeã da Europa e judoca nº 1 mundial na categoria de -78 kg, analisou a questão do apoio que é disponibilizado aos atletas de alto rendimento. “Temos lutado muito nos últimos anos para que esse apoio seja maior e tem crescido, agora, com a visibilidade que tenho ganho, mas continuamos sempre à procura de mais.” E, por vezes, segundo Patrícia Sampaio, o apoio não está centrado no financiamento. “Eu não tenho uma boa base de fisioterapia no clube. Estou numa modalidade que tem sempre muitas lesões e é necessária muita recuperação. Tomar possui poucos recursos”, o que obriga Patrícia Sampaio a ter de procurar apoio em Lisboa, no CAR Jamor. Mas tal não a impede de pensar mais à frente. “Aquilo que eu prometo é sempre fazer o meu melhor”, diz. “Dentro do ciclo eu tenho alguns objetivos bem definidos – há pouco tempo conquistei um deles, o ouro no Campeonato Europa – e nestes três anos tenho algumas coisas que quero conquistar.”
Diogo Ribeiro, nadador campeão mundial dos 50m mariposa e dos 100m mariposa, reconhece que o seu estatuto o tem ajudado na consecução de melhores condições de preparação: “Desde que sou campeão do mundo que as coisas têm acontecido naturalmente, tenho tido as condições todas de que preciso para chegar mais longe.” Mas há sempre algo que é possível acrescentar ao quadro da preparação, conforme reconhece o jovem olímpico (20 anos) português. “Neste momento surgiu um novo equipamento de que, por acaso, preciso e ainda estou à procura de algum patrocinador que me possa fornecer esse equipamento.”
O caminho de Diogo Ribeiro tem muito ainda por explorar e ele promete fazê-lo com confiança. “Com a entidade certa, com o apoio certo por trás e, lá está, a confiar em ti, não há medo da pressão. Eu sempre coloquei mais pressão em mim próprio, do que a que vem de fora. Se eu continuar com essa mentalidade acho que posso fazer grandes coisas no futuro”, concluiu.