Ambiente infernal no pavilhão, cinco mil adeptos da Estónia a fazer barulho, cerca de meia centena de adeptos portugueses na bancada, que, durante o hino, gritaram mais alto que todos os outros.
Foi com este “clima” que os Linces sentiram o apoio e retribuíram. Portugal venceu um gigante do Basquetebol, pela segunda vez neste campeonato, e está nos oitavos de final da competição. O sonho cumpriu-se: estamos na fase a eliminar do maior palco europeu, pela segunda vez na história, entre as 16 melhores equipas da Europa.
Um duelo para os livros de história. Os parciais pouco importam, agora que o resultado está lacrado, mas fique-se a saber que foi, como se diz na gíria, “taco-a-taco” durante todo o encontro. Mesmo depois de um parcial de 11-0 a fechar o terceiro quarto, os estónios recuperaram a liderança, depois de três triplos consecutivos e uma penetração, mas as forças lusas não desmoralizaram. Foi só um de vários momentos do jogo em que tudo podia ter corrido pelo pior, mas Portugal sabe sofrer. Sempre soube. E lutou sobre todo o sofrimento até ao final.
Quando Neemias Queta (15pts) foi excluído ao receber a segunda falta técnica, Miguel Queiroz virou-se para o banco e, com a garra do costume, gritou: “Vamos ganhar”. Ouviu-se da tribuna de imprensa e viu-se na expressão do capitão, a personificação em campo do esforço máximo destes guerreiros.
Mas Rafael Lisboa… só não faz lembrar o pai porque está aqui a escrever a própria história. A sangue-frio, com menos de um minuto para jogar e a dois metros da linha de três pontos: a bola do jogo. Quatro lances livres convertidos depois e saiu como TLC Man of The Match, com 17 pontos e cinco assistências “no bolso” (13val).
Neemias Queta marcou 15, Travante Williams 11, Daniel Relvão foi fundamental no terceiro quarto, mas a força desta verdadeira equipa está no coletivo. Todos contribuíram para a vitória, especialmente no que diz respeito à máquina defensiva de Mário Gomes (oito roubos de bola contra três dos estónios e mesmo perdendo a luta dos ressaltos, 41-35). Do início ao fim, a atitude lusa prevaleceu, depois de estar em desvantagem todo o segundo quarto e parte do terceiro.
De frisar também as palavras do professor Mário Gomes na conferência de imprensa, onde destacou não só o papel destes 12 Linces, como de todos os que contribuíram para uma qualificação histórica – e para que este objetivo hoje se cumprisse: André Cruz, Anthony da Silva, Gonçalo Delgado e Ricardo Monteiro.
Uma equipa (e uma vitória) para a História, depois dos parciais de 14-14, 18-13, 13-20, 20-21, que redundaram num êxito mais ou menos inesperado, mas real, por 68-65. À tangente, mas a presença nos oitavos ficou fechada.