Erika Ikeda / CPP
Margarida Silva (25 anos), conquistou, este domingo, a medalha de ouro na final dos 800 metros dos Jogos Surdolímpicos Tóquio 2025, tendo cumprido a prova 2.10,38 minutos e estabelecendo novo recorde dos Jogos, anteriormente fixado em 2.10,50 minutos.
Depois da medalha de prata alcançada nos 1500 metros, a atleta voltou a evidenciar uma estratégia irrepreensível ao longo das duas voltas, mantendo sempre o controlo da corrida e, a cerca de 300 metros do final, lançou o ataque decisivo, ultrapassando a atleta neutral Iuliia Abubiakirova, 2ª classificada com 2.10,64 minutos, e a chinesa Na Gao foi medalha de bronze, com 2.11,60 minutos –, e abrindo definitivamente o caminho para o título surdolímpico. A vitória de Margarida Silva ganhou ainda maior significado ao seu percurso pessoal.
A atleta assumiu publicamente a sua surdez apenas há sensivelmente um ano, num momento de profunda transformação e afirmação. Desde então, reconstruiu a sua relação com o atletismo, encontrando no treinador Fernando Ferreira o apoio técnico e humano que descreve como essencial para recuperar a alegria de correr. “Ele apareceu numa altura em que as coisas não estavam, de facto, a correr bem e acreditou em mim. Pegou em mim desfeita, literalmente, e no fundo trabalhou comigo para que isto acontecesse. Portanto, obrigada!”, declarou, emocionada, já depois de ter partilhado a sua visão da corrida: “Acho que ainda não me caiu muito bem a ficha… Confesso que vinha com um bocadinho de azia por causa do que tinha acontecido nos 1500 metros, porque senti que poderia, eventualmente, ter ganho se não fosse a questão da sapatilha [perdeu-a e concluiu a prova com o pé direito descalço] e, portanto, o meu único pensamento foi: ‘tu consegues, corre o máximo que conseguires, tu consegues, aguenta, aguenta. Estava a doer nos últimos 50 metros e foi mesmo não baixar os braços e continuar até ao fim, até à meta.” Margarida dedicou o triunfo à família, ao treinador e a todos os que a acompanharam no processo de aceitação e superação, sublinhando o orgulho em representar Portugal: “Eles foram peças fundamentais para, não só estar no desporto, mas também para ter a estabilidade que preciso para desempenhar esta função de ser atleta.”
A medalha de ouro dos 800 metros reforçou a posição da Missão Portuguesa nesta edição dos Jogos Surdolímpicos, elevando para cinco o número de medalhas conquistadas depois do ouro de Joana Santos no Judo (-57), da prata de Margarida Silva nos 1500m, da prata de André Soares no Contrarrelógio Individual e do bronze de André Soares na Corrida de Pontos. Trata-se do melhor resultado de sempre nos Jogos Surdolímpicos, superando as quatro conquistadas em Taipé 2009 e em Caxias do Sul 2022.
Os atletas portugueses conquistaram ainda oito diplomas.
Refira-se que Margarida Silva tem ainda de correr os 5.000m na próxima madrugada.
Em masculinos, Francisco Laranjeira compete também na final dos 5.000m e Hemilton Costa na final do Salto em Comprimento.
